Não é sua culpa

Não é sua culpa

Ele tinha algum motivo;

Por que nunca denunciou;

Por que casou com ele;

Você sabia que ele era assim…

Esses são os comentários que a maioria das mulheres escutam quando, com muita coragem, denunciam atos de violência doméstica.

Cada dia mais mulheres são espancadas em suas próprias casa, pelos homens que deveriam estar cuidando e as protegendo. Mesmo assim, frases como essas ainda são amplamente repetidas, responsabilizando a mulher pela violência sofrida e minimizando a gravidade da questão.

Mas as agressões não se restringem às relações amorosas, ou seja, também vale para a violência cometida por outros membros da família, como pai, mãe, irmão, irmã, padrasto, madrasta, filho, filha, sogro, sogra – desde que a vítima seja uma mulher, em qualquer faixa etária. Também se aplica quando a violência doméstica ocorre entre pessoas que moram juntas ou frequentam a casa, mesmo sem ser parentes, como um cunhado ou cunhada.

Dados alarmantes

De janeiro a outubro de 2023, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 atendeu uma média de 1.525 ligações telefônicas por dia. Foram 461.994 atendimentos, sendo 74.584 deles referentes a denúncias de violência contra mulheres. Em 2022, nesse mesmo período, foram 73.685.

Do total de denúncias recebidas pelo Ligue 180 no período, 51.941 foram realizadas pela própria mulher em situação de violência. Dessas mulheres, negras são as principais vítimas, somando 31.931 das denúncias:

•        parda: 24.785

•        Branca: 19.507

•        Preta: 7.146

•        amarela: 279

•        indígena: 224

Entre os principais tipos de denúncias estão a violência psicológica (72.993); seguida pela violência física (55.524); violência patrimonial (12.744), violência sexual (6.669); cárcere privado (2.338); violência moral (2.156) e tráfico de pessoas (41).

Esse não é apenas um problema dentro das casas, não se limita a quatro paredes. Ele afeta famílias inteiras e a sociedade como um todo.

Já se foi a ideia que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Perceber que uma mulher está sendo agredida e não fazer nada, estamos sendo coniventes com o agressor.

A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica e familiar, deixando claro que não existe apenas a violência que deixa marcas físicas evidentes:

– Violência psicológica: xingar, humilhar, ameaçar, intimidar e amedrontar; criticar continuamente, desvalorizar os atos e desconsiderar a opinião ou decisão da mulher; debochar publicamente, diminuir a autoestima; tentar fazer a mulher ficar confusa ou achar que está louca; controlar tudo o que ela faz, quando sai, com quem e aonde vai; usar os filhos para fazer chantagem – são alguns exemplos de violência psicológica, de acordo com a cartilha Viver sem violência é direito de toda mulher;

– Violência física: bater e espancar; empurrar, atirar objetos, sacudir, morder ou puxar os cabelos; mutilar e torturar; usar arma branca, como faca ou ferramentas de trabalho, ou de fogo;

– Violência sexual: forçar relações sexuais quando a mulher não quer ou quando estiver dormindo ou sem condições de consentir; fazer a mulher olhar imagens pornográficas quando ela não quer; obrigar a mulher a fazer sexo com outra (s) pessoa (s); impedir a mulher de prevenir a gravidez, forçá-la a engravidar ou ainda forçar o aborto quando ela não quiser;

– Violência patrimonial: controlar, reter ou tirar dinheiro dela; causar danos de propósito a objetos de que ela gosta; destruir, reter objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais e outros bens e direitos;

– Violência moral: fazer comentários ofensivos na frente de estranhos e/ou conhecidos; humilhar a mulher publicamente; expor a vida íntima do casal para outras pessoas, inclusive nas redes sociais; acusar publicamente a mulher de cometer crimes; inventar histórias e/ou falar mal da mulher para os outros com o intuito de diminuí-la perante amigos e parentes.

Não existe um perfil de agressor, nem de vítima. A violência está em todas as classes sociais, não tem cor, nem idade.

Muitas mulheres disfarçam os sinais de violência por culpa e medo.

Mas o que fazer, se você percebe que uma mulher está sendo vítima de algum tipo de abuso?

Se o caso for de uma emergência, ligue para o 190. Em casos de flagrante a polícia vai poder intervir.

Em casos de violência onde a mulher não tem coragem de fazer uma denúncia, o número 180 (Central de atendimento à Mulher). O caso vai ser investigado e se tomarão as providências adequadas, como o encaminhamento para a equipe psicossocial, entre outros.

Fique atentos, sua filha, sua vizinha, sua amiga pode estar precisando de você. No caso de suspeita, tenha tato e procure conversar, e se, o caso for confirmado, não tenha medo. Busque ajuda. Você pode salvar uma vida.

E se você for vítima, saiba que ninguém tem o direto de abusar, espancar ou ferir. Não espere o segundo golpe. Tenha coragem. Denuncie.

 

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